entrevista ao presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida, Miguel Oliveira da Silva, que chama a atenção para aspectos preocupantes da aplicação da lei do aborto, alerta para a educação sexual inexistente e diz que, nos hospitais, já há mais prática de não reanimar doentes do que dizem as fichas clínicas

Ler a entrevista completa em http://jornal.publico.pt/noticia/27-06-2010/depois-da-lei-ha-mulheres-que–fazem-dois-e-tres-abortos-por-ano-19709379.htm

Esta é a sua preocupação, três anos depois da lei do aborto? O número de abortos está a subir. De 12 mil passou para 18 mil em 2008 e para 19 mil em 2009.

Aumentaram os abortos ou a visibilidade do problema? Está a subir o registo legal do número de abortos até às dez semanas.

Era expectável…É expectável que isso aconteça durante dois a três anos, porque são muitas mulheres que vêm do aborto clandestino e que deixam de o fazer às escondidas. Mas vamos ver até quando continuarão a subir. Se os números continuarem a subir, a subir, é o total falhanço do planeamento familiar.

Não é preciso mais tempo para perceber?Pouco mais tempo. No máximo, um ano. Quando tivermos os dados de 2010 em 2011, se a tendência ascendente continuar, alguém terá de ter coragem de dizer que é tempo de pensar sobre isto e que há algo que não está a funcionar em termos de contracepção.

Por ignorância?Ainda por alguma ignorância, também. Se as pessoas não sabem quando têm a ovulação, se há mulheres que tomam três pilulas do dia seguinte no mesmo mês… Três vezes contracepção de emergência num mês? Ninguém tem três ovulações num mês! É ignorância total, abuso, mau uso. A questão é que, além de muita ignorância que ainda existe, temos de saber se o recurso ao aborto vem, nalguns casos, na sequência de uma política irresponsável de contracepção. Acho que quando tivermos quatro anos de lei do aborto é tempo mais do que suficiente de parar para pensar. Não é para mudar a lei. É para avaliar. E não vejo ninguém a querer fazer isso. É surpreendente.